segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Depeche Marketing

O show dos Depeche Mode no Pavilhão Atlântico, sábado à noite, foi muito bom. Um espectáculo multimédia bem produzido que animou uma multidão acima das 15 mil pessoas, que esgotou o recinto.
Animou tanto que até fez com que esquecêssemos a péssima organização da UAU, que obrigou milhares de pessoas com bilhete comprado a esperar mais de uma hora à chuva, até poder entrar no recinto. Inacreditável. Onde fica o livro de reclamações numa hora destas?


(foto publicada em wikipédia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Depeche_Mode)

Este sucesso duma banda com quase três décadas de carreira, mas que não publica um disco de topo há tanto tempo, faz pensar como a indústria da música mudou e como o modelo de negócio e as estratégias de marketing são hoje muito diferentes.

Afinal esta banda foi criada numa altura em que o objectivo desta indústria era vender discos (CDs)! Ponto.
Era isto que fazia a fama e a fortuna!
Os espectáculos serviam para promover os CDs. Faziam-se tornées para divulgar e promover os novos CDs, porque eram uma boa forma de os dar a conhecer. As receitas dos espectáculos eram muito inferiores às receitas dos CDs.
O objectivo era, portanto, vender CDs.

Entretanto, surgiu o mp3. E o download de músicas da net.

A indústria mudou radicalmente e aproximou-se do modelo de negócio a que actualmente se costuma chamar "FREE".

As pessoas compram hoje muito menos CDs. Em vez disso, fazem download (legal ou ilegal) das músicas que querem ouvir no seu mp3.

As receitas de vendas de CDs caíram para metade desde 1999.
Mesmo somando as vendas de CDs aos downloads legais de música, os valores de 2009 continuam muito distantes do que eram há uma década.

No entanto, esta enorme vaga de ficheiros mp3 que varreu o mundo e levou todo o tipo de música aos milhões de computadores ligados à net teve o efeito de divulgar e tornar mais conhecido o trabalho dos artistas.
Com isso, e com a melhoria nas salas de espectáculos, registou-se um espectacular crescimento nas receitas dos espectáculos ao vivo, que mais do que compensou a quebra nas vendas de CDs.

A fama e a fortuna conseguem-se agora fazendo grandes espectáculos ao vivo!
Passou-se a um modelo de negócio em que os CDs são lançados para promover as digressões de espectáculos ao vivo. Em cada vez mais casos, as bandas (sobretudo as mais conhecidas) até oferecem o download (legal) dos novos temas a partir dos seus sites oficiais, para os tornar conhecidos e, assim, chamar público aos seus espectáculos.

Desta forma, percebe-se melhor o fenómeno de bandas como os Depeche Mode que enchem salas de espectáculo, sem publicarem CDs de monta há mais duma década.
É que a música deles já é bem conhecida e os downloads ilegais só vieram ajudar a espalhá-la pelo planeta.
Agora só têm de facturar nessa notoriedade adquirida, vendendo espectáculos ao vivo.

Ou seja, a indústria da música for forçada a adoptar um modelo de negócio que outras indústrias adoptam por escolha: oferecer de graça aquilo que parece ser o produto principal, para facturar com aquilo que aparentemente são os "sub-produtos".
É o modelo dos fabricantes de impressoras que quase oferecem (nalguns casos, oferecem mesmo) as impressoras, para depois facturarem nos tinteiros.

É toda uma nova tendência que promete mudar as estratégias de marketing das empresas e que vem razoavelmente ilustrado num livro recentemente publicado em Portugal: Free (2009) Chris Anderson, Random House.
 
É uma estratégia de marketing que, como todas as outras, tenta concretizar, em relação ao mercado, aquilo que os Depeche Mode cantam à quase trinta anos:
 
reach out and touch me!

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